A pedido da Miriam Augusto, da Agência de Viagens The Wanderlust, escrevi um artigo para o seu blog sobre Zona de Conforto em viagem. Partilho aqui também convosco aquilo que para mim foi, e é, o impacto da viagem no meu desenvolvimento pessoal.

 

Quem nos abraça e nos deseja “Boa viagem!”, raramente se apercebe que aquela pessoa que neste momento parte, nunca mais volta!

Quando a decisão de viajar é tomada, algo em nós muda. O nosso foco, a nossa abertura ao desconhecido, a nossa curiosidade pelo que é diferente, a excitação que vibra por deixar para trás a rotina, a emoção por sentir que um sonho está prestes a ser realizado, entre tantas outras coisas.

 

Picos da Europa , Espanha

 

Já era Coach quando comecei a viajar para destinos desafiantes. Também como Coach, sabia que sair da zona de conforto é essencial para alcançar aqueles grandes sonhos que nos acompanham há muito, e que, no fundo, achamos que serão impossíveis de algum dia serem concretizados. Já tinha dado alguns passos para lá dessa zona de conforto, sempre com o objectivo de me conhecer melhor, de testar os meus limites e até, confirmar mesmo que o Coaching é a ferramenta ideal para tornar os sonhos em realidade. Claro que há milhares de formas de sair da zona de conforto, e que varia de pessoa para pessoa, mas na minha experiência pessoal, nenhuma alcança o mesmo impacto que a viagem!

 

Lago Titicaca, Peru

 

O poder que sinto por estar exposta a novas experiências, novas culturas, novos sabores, sons e silêncios nunca antes escutados, risos e desconfortos, paisagens só antes vistas na National Geographic, vivas, ali mesmo em frente aos meus olhos, sabores que nunca pensei que iria provar, entre tantas outras coisas, é absolutamente transformador. Frequentemente percebo o orgulho que sinto em contactar com pessoas de diferentes origens, em comunicar-me com elas mesmo sem entender a sua língua, em perceber que até me desenrasco no inglês mais do que imaginava (ou não! e com isso tomei a decisão de aprofundar os meus conhecimentos, como já aconteceu!). Percebo que consigo ver em perspectiva a minha vida, o que tenho e sou, de um ponto de vista novo, que o corpo fala e nos diz por vezes o caminho que temos de seguir, já para não falar das pessoas, que nos trazem a sua curiosidade, querendo saber de nós tanto quanto nós queremos saber delas.

 

Mount Toubkal – Marrocos

 

Viajar enche-me o peito de emoções, a memória de histórias para contar, como aquela em que decidi subir o monte Toubkal em Marrocos, com 4167 metros de altitude, durante 2 dias, em vez de ficar só a fazer compras giras em Marrakech, ou naquele trekking pelos Picos da Europa, em que decidi que o excesso de peso corporal que tinha e o desconforto que sentia, eram resultado de maus hábitos alimentares e de maus tratos ao meu organismo, e que assim que saísse dali, iria mudar toda a minha relação com o corpo e com os alimentos. Esta decisão que tomei e concretizei em acções, foi absolutamente transformadora na minha auto-estima, bem-estar, e sobretudo, na minha saúde! São pequenas decisões como estas que tomei em viagem, pelo meu bem e até pelo bem de outros, que me fez sempre voltar diferente. E não tem de ser só na montanha, onde me supero a cada passo! Essa transformação pessoal pode acontecer em qualquer momento, até num simples cruzar de sorrisos no lago Titicaca, no Peru, onde percebi a vida dura naquele sítio magnífico, ou a caminhar no Salar de Uyuni, na Bolívia, simplesmente a contemplar aquele deserto de sal preenchido de silêncio e energia poderosa! O gatilho é sem dúvida a viagem, é sonhar com ela e realizá-la, é aceitar a abertura ao outro e à diferença, é a plasticidade e a amplitude que ganhamos para reagir na vida com mais empatia, gentileza e consciência.

Ir implica sempre sair um pouco da nossa zona de conforto. Voltar implica sempre, como consequência, ser-se diferente, mais consciente, e faz com que quem nos abraça à chegada, abraça sempre uma melhor versão de nós.

 

 

 

Fotografia de Capa: Salar de Uyuni, Bolívia