Sonhos, viagens e glúten free
O dia em que decidi alcançar o meu maior sonho!
Podia ser o nome de um livro mas é uma história verdadeira, é minha e mostra como o Coaching funciona (ou como pode funcionar!).
O Coaching é sobre sonhos. Onde me encontro agora (A), o que pretendo alcançar (B) e o que preciso de fazer para o conseguir (como vou de A a B).
Entre A e B existem muitos próximos primeiros pequenos passos – pequenas acções que nos permitem avançar. Este texto é sobre todos esses passos. É um pouco longo, porque tem como objectivo desmistificar o processo de Coaching e porque mostra que alcançar sonhos não é magia, nem acontece de um momento para o outro. Alcançar sonhos dá trabalho e requer muita dedicação. Recosta-te um pouco na cadeira e aproveita esta leitura para pausar um momento a tua rotina.
Em 2005, comprei um livro que seria marcante na minha vida: Planisfério Pessoal de Gonçalo Cadilhe. O Gonçalo é um viajante, contador de histórias e esse livro reune as suas crónicas semanais que escreveu e publicou no jornal Expresso, ao longo dos dezanove meses em que viajou pelo mundo, sem recorrer ao transporte aéreo.
Foi a primeira vez que ouvi falar de Machu Picchu, no Perú. Naquele momento, senti uma vontade enorme de conhecer aquele lugar no outro lado do mundo. Ir a Machu Picchu passou a ser o meu maior sonho. Algo tão grande, que eu tinha dúvidas se algum dia iria conseguir. Na altura, ganhava de vencimento 500€ e chegar lá parecia-me absolutamente impossível! Pelas pesquisas que fazia, seriam precisos 5.000€ para pagar toda a viagem. Não sobrava 1 cêntimo ao final do mês, como é que eu iria conseguir 5.000€!?
Na altura não fazia ideia o que era o Coaching e fui vivendo a minha vida entre os 500€, o desemprego, entre a desesperança e a luta, mas nunca perdendo o sonho de um dia ir ao Perú e a Machu Picchu! Falava desse sonho o tempo todo e a toda a gente! Toda a gente sabia que ir a Machu Picchu era o meu maior sonho! Escrevia esse sonho em todos os meus momentos de reflexão, via imagens, vídeos e lia artigos de quem já lá tinha ido. Vibrava com tudo aquilo mas sentia-me completamente distante dessa possibilidade.
Quando fiz a Certificação em Coaching, em 2012, os sonhos passaram a ter um plano! Perguntavam-me: Qual é o teu maior sonho? Ao que eu respondia: Ir a Machu Picchu! E o que falta para isso acontecer? 5.000€! – este diálogo repetiu-se vezes sem conta! Até àquela altura, nada fazia para o alcançar porque achava que era impossível, ponto! A partir daí tudo passou a ser diferente. Com o Coaching eu sabia onde estava (A), sabia para onde queria ir (B – ir a Machu Picchu no Perú), só faltava os próximos primeiros pequenos passos para percorrer o caminho entre A e B!
Das dezenas de ideias que fui escrevendo e definindo como possíveis próximos pequenos passos, comprar botas de trekking foi a minha primeira acção!
Sempre pensei que a viagem ao Perú seria de mochila às costas e a fazer caminhadas logo, precisava de umas boas botas! Aproveitei uma viagem à Bélgica, a casa de uns amigos, para ir às compras à Alemanha (ali tudo é perto – Bélgica, Luxemburgo, França, Alemanha), a um outlet famoso, com bastantes lojas repletas de material para viagens de aventura.
Botas compradas! Primeiro pequeno passo dado! A seguir, o próximo primeiro pequeno passo seria comprar uma mochila de trekking! Todos os viajantes têm uma mochila e eu também teria que ter uma. Pesquisei online, vi vídeos que mostravam mochilas por dentro, por fora, explicavam qualidades e defeitos, pesquisei as melhores soluções, as melhores relações qualidade/preço e decidi: a minha mochila seria uma Deuter de 70 litros! Curiosamente (ou talvez não!), esses meus amigos da Bélgica, pediram-me um trabalho de design gráfico e avisaram-me que, gostariam de me pagar contribuindo para o meu sonho da viagem ao Perú! Pagaram-me o logotipo com a mochila! Mochila: check!
Um ano mais tarde, já eu era Coach e Master Coach, um amigo recente perguntou-me: Qual é o teu maior sonho? Ao que eu respondi: Ir a Machu Picchu! E o que falta para isso acontecer? 5.000€! Ele fixou-me e respondeu algo que jamais vou esquecer: Quando decidires que vais ao Perú, o dinheiro vai aparecer! Pensei: Uau! Eu sei que sim! Sabia que ele tinha razão e que era assim que funcionava a Lei da Atracção que eu tanto lia nos livros de desenvolvimento pessoal! Pouco tempo depois, decidi: Ana, tu já tens botas, já tens mochila, tu vais mesmo a Machu Picchu! No momento seguinte a esta epifania, o meu cérebro trouxe aquilo que faz de melhor: perguntas! Então tu vais para o outro lado do mundo sem nunca teres viajado de mochila às costas!? Deves ser doida! Nunca fizeste um trekking com as botas, não tiraste a mochila do saco, vais assim para o outro lado do mundo?!? Pensei: OK! É verdade! Será que eu consigo fazer uma viagem mais perto, mais barata, que me permita fazer esses testes? Abri o site da Nomad – a agência que seguia há anos e com quem sempre quis fazer a viagem ao Perú! Procurei e encontrei a solução: 5 dias de trekking na Travessia dos Picos da Europa! Assim podia conhecer um sítio onde eu nunca tinha ido, testar viajar com a mochila e fazer trekking! O preço estava ao meu alcance e decidi ir! Estávamos em 2014. Fiz todos os próximos primeiros pequenos passos necessários para isso acontecer: inscrevi-me no site, paguei, fui comprando algumas roupas, fiz ginásio para trabalhar o físico, marquei hotel em Salamanca para visitar a meio do caminho, organizei o carro e todo o material (entre tantas outras coisas) e fui! Mal sabia onde me estava a meter!
Ao fim de meia hora de começar a caminhar (com aquilo que me pareciam ser milhões de quilos às costas!) só pensava: Mas porquê, Ana!? Mas porque é que te vieste meter nisto!? Se querias ir para o Perú, porque vieste para os Picos da Europa!!!!??? Que boa aluna deves ter sido a Geografia! Nem vos conto! O meu discurso interno era uma personagem saída de um filme de animação, sempre a buzinar ao ouvido e não se calava: e este calor? ainda à bocado estavas de casaco! Que calor é este!? E esta falta de ar!? Não andas no ginásio a treinar quem nem doida!? Também não sei porque é que treinas tanto e ainda não atingiste o teu peso! (nesta data já tinha perdido 10 quilos nos últimos 9 meses), e esses doces todos que tu comes!? Agora queres ter força e não tens!! Que jeito te dava agora ter menos 6 quilos (o meu peso ideal)! Enfim… uma ladainha pica miolos que logo no primeiro dia me fez tomar uma decisão: mudar a minha alimentação e o meu corpo! Tinha Síndrome de Cólon Irritável, a médica de Gastro estava sempre a insistir para deixar o leite e desta vez é que ia ser! Quando me vir sentadinha no sofá lá de casa, no fresco, nunca mais vou comer doces, beber leite e derivados! E vou ficar magra! Desta é que é! Bem… não foi radicalmente assim, nem foi um processo imediato, mas a verdade é que nos 6 meses seguintes deixei a lactose, o glúten (fiz exames e sou altamente intolerante) e alterei muito a minha relação com a alimentação. Sobretudo percebi que, perante aquela dor e total desconforto, a minha alimentação era quase na totalidade feita de forma emocional e não de forma biológica e consciente! Aquela dor fez-me querer sentir mais prazer! Prazer de viver sem sintomas agressivos, prazer em sentir-me leve e saudável.
Que experiência transformadora é uma viagem de trekking! É óbvio que recomendo!
O prazer de viajar e ter desafios físicos passou a ser um objectivo para mim (ver aqui o post do Toubkal), onde recebo o meu diabrete do cinema de animação e o ouço com atenção. Além de tudo isto, o objectivo da viagem tinha sido um sucesso: fiz trekking com as minhas botas novas, viajei de mochila às costas e agora sabia o que podia e o que não podia levar lá dentro, pois tudo iria ser carregado pelas minhas costas. Depois desta aventura percebi: Estou pronta para o Perú! E o que falta para isso acontecer? 5.000€!!!
OK! O primeiro próximo pequeno passo passou a ser o dinheiro. Juntar tudo o que podia, não comprar coisas desnecessárias, evitar jantares fora, idas ao cinema, ao shopping, enfim, tudo o que podia fazer para poupar dinheiro, eu fazia. Divulguei através das redes sociais que estava disponível para trabalhos como freelancer em design gráfico e fui recebendo algumas propostas. Passei a trabalhar no meu emprego das 9h às 18h e como freelancer das 19h30 às 02h da manhã, sábados, domingos e feriados. Com o subsídio de natal e os trabalhos que tinha acumulado, consegui o valor necessário para me inscrever na viagem (30% do valor total) e comprar o voo! Estávamos em dezembro e a viajem ao Perú seria em julho. Quando pensei: ok, vamos lá inscrever-me na viagem, o meu diabrete apareceu de novo e perguntou: a tua patroa vai deixar-te tirar 3 semanas de férias!? – eu era responsável de equipa, geria o trabalho entre “o cliente” e os designers e garantia que tudo corria bem nos prazos previstos. A tua patroa não vai permitir que estejas ausente 3 semanas! (eram mesmo precisas 3 semanas porque a viagem durava 17 dias), jamais, em tempo algum! Ora bolas! Agora que consegui o dinheiro (o que sempre acreditei ser o mais difícil/impossível de alcançar), faltava-me o tempo!
Num almoço de natal, com o mesmo amigo que me tinha dito que quando eu decidisse ir ao Perú o dinheiro apareceria, contei-lhe do meu novo drama! Não vais acreditar! Consegui o dinheiro, mas eu sou responsável aqui no trabalho e a patroa não me vai deixar tirar 3 semanas de férias! Aquele olhar de resposta dele eu já conhecia: Ana! Como podes dizer que não te vai dar se tu ainda não pediste!? Na realidade, tu não sabes! Tens de pedir primeiro e saber depois! Só assim vais conseguir negociar essa situação. Mais uma vez ele estava certo! Iria pedir 3 semanas de férias!
Passou o natal e a passagem de ano e logo no primeiro dia de trabalho de 2015, um dos meus colegas da equipa, veio avisar-me que iria estar ausente em todo o mês de Fevereiro para gozar a licença de paternidade de 30 dias que tinha direito! Oh céus!! Eu jamais me lembrava que ele tinha sido pai em outubro! É claro que ele iria gozar a licença de paternidade! E se eu ia aguentar o trabalho todo 1 mês sem ele, ele também iria aguentar 3 semanas sem mim!! Naquele momento chorei de felicidade!!! Se a patroa me negar as 3 semanas de férias, eu tenho uma moeda de troca para negociar! Não cabia em mim de tanta alegria! Ao contar isto a outra colega, ela vestiu a pele do meu diabrete e disse-me: esquece Ana! Uma coisa é ele, outra coisa és tu! Tu és responsável por todo o trabalho! A patroa não te vai dar as 3 semanas de férias! Naquela altura já nada me faria parar mas, ainda me lembro, da ansiedade que senti quando fiz “enviar” ao e-mail que dizia: Férias da Ana – de dia x a dia y – sem nunca mencionar que seriam 3 semanas de ausência! Naquele momento fiquei em apneia! Não conseguia pensar em mais nada! A colega continuava a dizer-me: ela não vai deixar! Então quando foi não sei quem, ela não deixou e agora… achas!? Passados 10 minutos de ter enviado o e-mail, veio a resposta. OK!
Ok!! Ok!? A patroa deu OK às minhas férias!? A patroa deu OK às minhas 3 semanas de férias!!!!????? Comemorei como doida! Saltei, berrei, chorei, ri, sei lá! Valeu tudo para celebrar aquela conquista! Vou mesmo ao Perú!
Entrei no site da Nomad, inscrevi-me, paguei o voo e confirmei a minha viagem de sonho! O que faltava? ainda faltava uma bela quantia em euros que eu teria de conseguir entre janeiro e junho! Os meus amigos chamavam-me para a esplanada aos primeiros raios de sol da primavera e eu, fechada em casa a trabalhar, negava. Nada era mais importante naquele momento para mim, do que juntar o dinheiro para a viagem. No ginásio, contratei um PT para me ajudar na eficácia e resultados com os treinos. Não podia voltar a sentir aquela falta de ar novamente! Também fui mudando e ajustando a dieta com a ajuda de uma nutricionista.
Muito mudou em mim depois de ter decidido conquistar o meu sonho! A minha alimentação mudou, a relação com o meu corpo mudou, a minha forma física mudou, a minha determinação mudou e a 10 de julho de 2015 embarquei sozinha para o Perú, de mochila às costas, de botas calçadas (outras que entretanto comprei por serem mais leves!) e juntei-me ao grupo da Nomad em Lima para viver a minha viagem de sonho!
Entrar em Machu Picchu alguns dias depois, foi um dos grandes momentos da minha vida! Um momento repleto de emoção, comoção, sentimento de conquista e realização pessoal!
Por muito que pareça louco todo este caminho, foi assim que conquistei um grande sonho – com um plano, com determinação, perseverança e muito, muito trabalho!
Acho que se tiveste paciência para ler isto tudo até aqui (e obrigada por isso!), ainda vais gostar de ler a Moral da História!
Moral da História:
– Vai atrás dos teus sonhos por muito que eles te pareçam impossíveis de alcançar agora!
– Vai haver sempre gente que te puxa para cima e uma delas és tu!
– Vai haver sempre alguém que te diz que não vais conseguir e uma delas és tu!
– A cada próximo primeiro pequeno passo o teu sonho vai-se tornando possível;
– É fácil? Não!!! Mas é possível!
– É rápido? Pode ser mas nem sempre é!! O meu sonho começou em 2005 e concretizou-se em 2015!
– Cria um plano de A a B! Arranja um Coach para te ajudar e apoiar!
– Se eu consegui, tu também consegues!
p.s.1. como muita coisa mudou e a alimentação mudou mesmo, curei a minha Síndrome de Colón Irritável, deixei de tomar diariamente e com diagnóstico para o resto da vida, medicação para a esofagite e tive alta das consultas semestrais de Gastro em 2016.
p.s.2. A viagem no total acabou por custar 3200€.
p.s.3. Quem me conhece de bastante perto, sabe que ainda aconteceu outra magia no Perú, mas essa, como é bastante pessoal, fica fora da história ?
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