Excesso de peso vs Objectivos pessoais

Não é um Antes e Depois, é Agora e Sempre!

 

Antes de começar a falar sobre este assunto frágil para mim e para muitos, quero acolher com compaixão e carinho quem reconhece este tema como um objectivo, que por vezes parece demasiado exigente e até impossível de alcançar. Pretendo fazer um texto honesto, com base na minha experiência pessoal com o único objectivo de poder tocar no coração de alguém que passa ou passou pelo mesmo e possa sentir um gatilho de inspiração, por mais pequeno que seja. O meu objectivo é dizer #estamosjuntos e nunca um “se eu consegui, tu também consegues” porque tu e eu, sabemos que não é bem assim tão simples!

Sempre fui fora do “tamanho”. 

Esta podia ser uma metáfora para mais um texto inspirador de Coaching mas não é! Neste caso, falo literalmente de medidas. Lembro-me de aos 4 anos calçar o 34, aos 10 anos medir 1,60m e pesar 60 Kg. É deste tamanho que falo. A minha família é de estrutura grande e isso sempre me tirou dos percentis “normais”. Meço 1,74m desde os 14 anos e fui considerada “gigante”, “enorme” e “altíssima” até aos 20, onde, aparentemente, a minha idade já justificava a minha altura!

Enquanto criança, ser fora do percentil foi para mim limitador de muitas coisas. Para além de ser apontada e julgada com tal, constantemente, não haviam roupas de criança para o meu tamanho e eu vestia tudo costurado pela minha mãe. Não haviam sapatos de criança para o meu tamanho e todos os sapatinhos de verniz de menina foram parar aos pés das outras meninas. Aos meus pés foram parar botas ortopédicas (que eu nunca precisei de usar por motivos de saúde) ou ténis. Não havia colo porque eu era muito pesada!

Além deste tamanho extra, até aos 10 anos de idade, sempre fui gordinha. Depois, cresci imenso num curto espaço de tempo e o excesso de peso não foi tema até aos 19 anos. A partir daí, uma série de acontecimentos trouxeram um turbilhão de emoções intensas à minha vida e, quase todas elas, eu não estava preparada para saber gerir. Tenho hoje plena consciência de que passei a comer para tapar um buraco emocional enorme que doía dentro de mim! Sem me aperceber ganhei 20Kg num ano! Aos 23 anos cheguei aos 88,5Kg! Sabia que tinha atingido o limite de resistência do meu corpo e era necessário fazer alguma coisa para reverter essa situação!

Fui tratar do peso e não da dor. Foi um erro com enormes consequências físicas e psicológicas, no entanto na época, não tive esse nível de consciência. Muito mais tarde, quando iniciei o meu caminho pelo Coaching e aprendi a conquistar objectivos, retomei este trabalho com o excesso de peso e procurei variadíssimas soluções. Fiz um plano entre a reprogramação mental, a nutrição e exercício físico, sem nunca conseguir alcançar o resultado final do meu peso ideal. Chegava quase lá mas nunca chegava mesmo lá! Sentia que tinha todas as ferramentas para alcançar aquele objectivo mas faltava qualquer coisa para o conseguir. 

  • Se eu perder mais peso, a roupa deixa de me servir e eu não tenho dinheiro para comprar outra roupa nova!
  • Se eu perder peso, as pessoas começam a perguntar-me se eu estou doente! (quem nunca!?)
  • Se eu perder peso, deixo de pertencer ao que é “normal” no padrão familiar!
  • Se eu perder peso, nunca serei leve!
  • Se eu perder peso, terei que responder a todos os comentários de toda a gente que acha que tem alguma coisa a dizer!

Entre tantas outras crenças que eu acreditava e que me sabotavam de conseguir chegar ao meu objectivo, estas eram só algumas!

O ano de 2019 foi muito desafiante a nível de saúde para muitas pessoas à minha volta e no final do ano foi a minha vez! Recebi um diagnóstico assustador, e tomei uma decisão: independentemente do que acontecer, em 2020 eu vou ser a minha melhor versão! Senti muito medo. Medo de sofrer, de morrer, de perder a capacidade de andar, de fazer as minhas viagens, entre tantas outras coisas! No meio do maior medo, o gatilho de mudança foi accionado! Felizmente, aquele diagnóstico assustador não se confirmou, contudo a minha decisão não se alterou! Mais de 20 anos depois, com muito foco e disciplina, num nível nunca antes atingido, retomei o meu peso ideal. 

Apesar de querer muito alcançar um objectivo com todas as ferramentas que tinha ao meu alcance, a decisão que tomei foi a de ser a minha melhor versão e isso fez-me iniciar um trabalho de resgate do poder pessoal que possibilitou este sucesso. Fiz as pazes com o meu passado, com o meu tamanho, com aquilo que eu sou, como eu sou. Até o facto de fazer obras em casa e desfazer-me de coisas que já não faziam sentido, fez parte deste processo de cura. Encontrei algumas roupas de criança que consegui vestir hoje, 34 anos depois. Chorei de emoção, claro! Eu era de facto grande para a minha idade, comparativamente com os outros. Para mulher portuguesa, tenho 14cm acima da média e está tudo bem! Este tema da comparação daria outro texto de reflexão mas fica para outra oportunidade!

Hoje, celebro este sentimento interno de aceitação, independente do meu peso e do meu tamanho. Acolho a Ana como é. Muito mais do que uma fotografia de ANTES e DEPOIS, habitualmente partilhada por pessoas que conseguem perder peso, o que pretendo partilhar é o processo de cura e aceitação interno, o gatilho que me levou a este caminho de superação pessoal.

o mesmo vestido
a mesma saia

Ironia do destino, foi ter chegado ao peso que sempre quis ter (65kg) e não gostei do que vi ao espelho! Aumentei uns quilinhos 😀

Quando me perguntam se o tamanho importa? É claro que o tamanho importa!

O tamanho da nossa insatisfação, importa!

O tamanho da nossa disciplina, importa!

O tamanho da nossa aceitação, importa!

O tamanho da nossa auto-estima, importa!

O tamanho da nossa alegria, importa!

E o tamanho da nossa dor, também importa!

Gratidão pelo tempo que dedicaste a ler. Se este texto foi tocante para ti em algum momento ou se achas que pode ser importante para alguém que conheces, partilha-o.

#estamosjuntos

Com humildade,

Ana Ferraria

coach e fundadora da QuestionAr-t